Tuesday, March 27, 2007

Sunday, February 25, 2007

Minha vida é um fado

Minha vida é um fado

Sem o som das guitarras nem a posição hirta do fadista

Tenho a sensação de que a minha vida é melancólica como um fado mas sem o choradilho musicado das gitarras, nem acompanhado de chouriço assado e vinho tinto.
Sou questionado sobre questões que nem sentido fazem, mas que acham que é importante para mim, saber as respostas. A última foi-me posta assim: O que sentes que precisas para ser feliz?
Veio-me logo á memória ser rico, e dizem-me logo que não, não é disso que estamos a falar.
Mas afinal estamos a falar de felicidade ou não? Uma das bases da felicidade é ter o que se deseja ou não?
E baralha-me que se confunda isso porque dinheiro infelicidade não dá, e melhora qualquer felicidade, pelo que matemáticamente seria dinheiro = felicidade, sabemos que não é tudo, isso é certo mas que ajuda, ajuda e eu estou rodeado de pessoas que acham que o dinheiro não trás felicidade, claro que trás.
Perguntai a um pobre carregado de dividas e com fome se o dinheiro lhe traria ou não felicidade?
Ou a uma mãe solteira desempregada com dois filhos menores se o dinheiro trás ou não felicidade?
Pelo que acho que nos deviamos deixar destas falsas moralidades, porque o dinheiro só não trás felicidade a quem tem muito e herdado, muito sem esforço próprio mas com a mesma validade.
Por isso digo uma das coisas que mais feliz me deixaria, seria ser podre de rico, digo eu que tenho saúde, e passei toda uma vida a trabalhar e a ver isso mesmo.
Mas também preciso de outras coisas claro, que garanto o dinheiro ajuda na selecção e na chatice da procura, e mais uma vez o dinheiro ajuda, porque aqui entre nós, isso do filme indiano em que a rica casa com o pobre é mesmo isso, filme indiano, e por mais pó de caril que usemos na vida, na vida real é muito, mas muito raro e geralmente acontece quando ela, rica, é muito feia. É duro mas é verdade.
Como diz a canção Se ao menos vissem o mundo pelos meus olhos........

Wednesday, January 24, 2007

Coisas sem fim

Coisas sem fim


Tem monólogos que se podem tornar intermináveis, aqueles que temos quando estamos sós, e não queremos estar sós e a ter estes monólogos. Mas não conseguimos evitar esses momentos, em que questionamos de nós para nós.
É que pelo menos no meu caso, eu sei ser duro comigo mesmo, mas tem dias em que assim não é. Nesses dias preferia ter antes uma conversa com alguém que me tirasse essas verdades de mim, que não quero ouvir de mim, porque me dói muito perceber isso.
Tenho um grande problema de comunicação comigo próprio. Ou melhor, consigo inventar problemas na minha comunicação pessoal, consigo rasteirar-me e estatelar-me ao comprido, na parte mais lamacenta dos afectos, e sujar-me com aquelas nódoas que não parecem sair de dentro de nós, que se infiltraram em mim dissolvidas no tempo, mas sempre presentes quando não precisamos delas.
E a minha vida tem sido este rame-rame, em que me procuro onde sei que não estou , porque não me quero encontrar.
Mas acabo sempre por me encontrar como é óbvio. E sempre nas situações mais dolorosas ou humilhantes, sem que para tal precise de me esforçar muito, tipo, tenho jeito para que essas coisas me aconteçam.
E cá vou eu tentando não me encontrar para não ter de me enfrentar nesta minha mistura de desgraça/graça que eu tanto gosto de viver sem muito bem perceber porquê? Mas decidi vou vender a mota (culpo-a agora pelas minhas desgraças) para ver se pelo menos tenho menos um problema para resolver.
A ver se assim sou mais ou menos feliz Tenho que falar nisso á Psy.
Antes de mais a Psy é a minha psicóloga, super engraçada que me anda a ver as entranhas da mente, as minhas conexões cerebrais, essas ligações voláteis que cicatrizam a mente com máscaras e hábitos murais em estruturas que até se aguentaram mas não são as correctas, e que agora tem que me mostrar como desmontá-las sem abalar a estrutura para o edificio não cair.
Aqui entre nós estou a aprender de novo como me comportar em termos afectivos e a tolerar melhor essas merdas que me atormentam. E sei que me vai ajudar muito a Psy.

Domingo de manhã

Domingo de manhã


Tem dias assim, em que não apetece apetecer, dias mornos, em que me sobra sempre a inquietude de mim, lá mesmo onde não é preciso e me assombra a alma, me indispõe e geralmente nessa altura, penso, vou correr.
Isto acontece-me sempre aos domingos de manhã, sempre por volta das 07.15, tipo uma repetição do nada que é ser domingo de manhã, e saio sempre muito compenetrado no abstracto da saudação ao sol, uma sequencia de movimentos que me ajuda a ir já meio quente para mais uma luta contra parte dos meus fantasmas num ritmo lento e pausado de pensador que não sabe o que pensar.
Percorro as linhas do asfalto, da mesma forma que percorro a vida em passadas largas arfando angustias passadas mas que se recusam abandonar-me.
Tento percorrer sempre caminhos diferentes numa tentativa de abordar as coisas de outra forma, de ver as entrelinhas das entrelinhas, misturar-me nas soluções de problemas que já nem o são, mas persistem em ser, numa inquietude que me faz apressar o passo na subida da Sobreda, onde morreu o Camões num acidente de mota, e é com ele misturado nesta minha confusão que penso que talvez precise de ajuda profissional.
Volta o remorso do caso Cris a raiva incontrolável da negação do afecto, ele há sempre o afecto a colorir tudo, ás vezes de vermelho, ás vezes de multicores lampejos de alegria, mas a traição essa era negativa, isso sei eu,já com a morte andando de mãos dadas comigo num abraço cúmplice, digo a mim próprio pára com isso Zé não vale a pena.
Estou a descer já a caminho de casa, foi aí nesse preciso instante que me lembrei de forma muito desordeira e atabalhoada, que esta gaja não me pode fazer isso e ficar-se a rir, voltei a repetir a mim próprio já quase a entrar em casa, Zé tem juízo já tens idade para isso, vai desenhar qualquer coisa que isso passa-te, mas não passou e fiz o que fiz para ter este remorso que me escurece por dentro, e por isso e apesar de tudo e de todas as opiniões que possa haver ela não merecia tal castigo e tu Zé vê se aprendes algo com isto que é o que faz a diferença entre o inteligente e o imbecil.
E tu não queres ser um imbecil ou queres?

da tristeza e do resto

Da tristeza e do resto…..

Vou falar da tristeza em geral, a pedido da minha psy. Para mim a tristeza é sentir-me mal comigo, sentir-me apagado, como uma lágrima quase a correr pela face, contida, e isso é mau.
Consigo estar assim quase a chorar, com aquele nó na alma que quer sair, e que eu não deixo que saia, por medo.
Sou de choro fácil, quando estou só, depressivo ouso dizer, porque tudo me entristece, principalmente quando não percebo, ou não quero perceber, certos porquês.
Sou assim, de difíceis afectos, de medos incontornáveis, de fugas marginais, de nada poder ser sem o meu controle.
Mas para mim tristeza é perda. Emocional ou não, é como diz a canção, ter o que queres e não o que precisas. Ou perder alguma coisa que não posso recuperar. Ou ainda, mascarar as emoções de agressividades gratuitas, cortes profundos que sangram sem sangrar, e que me fazem doer por dentro, aqui no meio do peito.
É ser eu sem querer ser eu, e encharcar-me nas substâncias acessíveis de consumos variados, de fumos e líquidos que nos bloqueiam a alma, nos dispersam os afectos e magoam muito os que amamos, e muito mais a mim.
Tristeza é amar sem ser amado, é correr sem meta nem destino, na procura incansável de nada, porque gostar dói e eu tenho medo disso, de me magoar e acabo sempre por me magoar ainda mais, nesta minha procura de AMOR, porque tenho medo de amar sem condições, quando se ama, partilha-se e tem que se dar para se receber, e isso mete-me medo também.
Tristeza é querer dar e não poder, querer receber e não ter quem nos dê. È ser uma rocha que pensa, que é dura no aspecto, mas frágil para quem a sabe cortar, e tem os utensílios para isso.
E é assim triste que percorro a minha vida de dolorosas emoções, e me vou defendendo, magoando os outros, para repartir esta dor que é a tristeza que se acomodou aqui no meu peito e não consigo ou não quero expulsar de mim.
Tristeza é afecto também, ou não? Tristeza é passar por uma ex. e não falar porque nada ficou para se falar, é cortar as raízes da comunicação, fechar portas que se querem abertas e não saber mantê-las abertas, e ver a vida a esvair-se no tic tac do tempo, e ver que se está a ficar obsoleto, ou como diz outro poeta, que cortaram as veias dos pulsos 3 vezes em sucessão e sem sucesso, por isso foram obrigados a abrir lojas de antiguidades onde viram que estavam a ficar velhos e choraram.
Tristeza é choro silencioso também, tão silencioso como a morte, mas que abre feridas, que nunca fecham, e que nos vão matando, lenta e dolorosamente, qual cancro emocional.
É não assumir o choro como parte da vida, e reprimir todas as emoções até ao desgaste de nós.
Tristeza sou eu aqui a escrever este triste texto sobre a minha triste existência, de sorriso triste estampado no rosto, como o choro dum palhaço de enorme sorriso pintado.
É criar inimigos quando se quer criar amigos, baralhar os afectos e deixar essa fina linha que separa o amor do ódio se desvanecer.
Tristeza é ser o que não se quer ser, e não querer mudar., é sentirmo-nos sós no meio duma multidão que partilha uma qualquer alegria colectiva, e não fazer parte disso.
Tristeza é querer amar e não saber como, ou amar e não saber que se ama. É ser amado sem saber disso, e deixar isso morrer derramado num liquido qualquer que nos embacia as emoções mas nos alegra de forma superficial.
Tristeza é ser agressivo quando se quer ser amoroso, ser infiel vil e mau quando nada disto faz sentido, é ser eu aqui e agora.

Monday, January 8, 2007

(continuação)



(Continuação)
Foi década e meia que passamos juntos, partilhámos tudo aqui em casa, assististe a todo um kamasutra aqui celebrado, com muitas mulheres, enquanto de olhos esbugalhados, nos vias a preto e branco suando estranhos prazeres. Adoraste a Xu, mas odiaste a Marilena, a Agda odiava-te pelo sustos que lhe pregaste, e aturaste o que pudeste da minha família, que quando aqui vinha implicava contigo, tu sempre com aquele olhar determinado de quem sabe muito bem o que quer da vida e sabe como obtê-lo.
Tenho saudades do teu olhar a dizer # hey estou aqui sou o teu gatinho preferido e gosto muito disso que estás a comer #, e de quando me saltavas para o colo, para me cheirares o prato. Das conversas que tínhamos quando te dava banho e esperávamos os 5 minutos para o shampoo fazer efeito contra as pulgas, tu ali deitado olhos fechados deliciado com as carícias que eu ia fazendo ao longo do teu corpo.
Foste um gato estranho que não gostava de festas, e muito guloso, adoravas chatilly. E sabias fazer aquele olhar amarelo que derretia qualquer um. Mas eras de hábitos muito rígidos, marcavas cuidadosamente o quintal afiavas as garras na nespereira e adoravas dormir nos bancos das motas, eras a 1º coisa que via, quando regressava a casa vindo do trabalho, recortado no muro.
Ainda me lembro de quando partiste para o teu pedaço de mata preferido, ambos sabíamos que era adeus, já não deve voltar lembro-me de pensar, mas também foste sempre assim, de ires para voltares 3 ou 4 dias depois todo sujo a cheirar a gato e esfomeado. Mas desta vez, sabia que não voltarias, seguiste sempre o mesmo caminho, cambaleando de vez em quando, e perdi-te de vista na dobra do muro. Claro que chorei, e ainda olho para os teus sítios favoritos a ver se lá estás, foste um bom companheiro e um amigo pah.
Procurei por ti todas as manhãs no matinho, nos quintais que frequentavas, e não te vi mais. Espero que tenhas tido uma morte serena sem dor porque foste o melhor gato do mundo. E é com lágrimas nos olhos Tigre que termino esta minha dedicatória a ti.(Não devia dizer isto)

Para o TIGRE o melhor gato do mundo.

Sunday, January 7, 2007

O meu gato morreu


Meu gato está a morrer

Veio a vizinha em pânico bater-me na janela, chorosa e dizer-me: o seu gato está a morrer ali ao pé da Fernanda.
Sai disparado e fui ver, e lá estava ele de língua de fora a olhar para mim com aquele olhar de quem tudo sabe da vida e nada quer dela a não ser sopas e descanso. Gosto muito dele, foi minha companhia por mais de uma década, e está velho e sempre fez a vida á maneira dele, como gato que se preze.
O veterinário quis abatê-lo mas eu não tive coragem de o mandar abater e ele ficou ali colado ao meu peito a lamber-me a mão devagar já quase sem forças, mas a querer muito viver estes últimos momentos comigo.
Segundo o veterinário é a velhice que o está a matar ,e talvez parasitas que agora não vale a pena combater porque ele já não tem organismo que se defenda, bem que andava estranho estes últimos meses, mas que posso eu fazer contra o tempo?
Encheu a minha vida de sorrisos, de límpidas gargalhadas, naquele seu companheirismo silencioso, cresceu aqui, e chegou a esta casa de mota vindo de Oeiras.
Foi-me dado por uma miúda de olhos grandes e negros, e ele vinha numa gaiola, esfomeado.
Não sabia beber leite dum pires pelo que foi amamentado aqui pela minha namorada da altura a Xu, doce mulher, de instintos maternais muito fortes que se deliciava a dar o biberão ao gatito, que pela sua atitude agressiva foi chamado de Tigre (tigrito para mim), biberão esse que tomava 4 vezes ao dia e mais uma vez quando a namorada chegava, que adorava aquele momento.
Cresceu aqui só, nesta casa á espera da minha chegada acompanhado ou não, e foi neste clima que nos habituamos um ao outro, e criamos aquela cumplicidade possível com um gato muito libertino como sempre foi, não teve outros gatos com quem brincar e aprender coisas de gato pelo que se afeiçoou a mim duma forma muito forte, mas que o inibiu de saber coisas de gato, e isso não foi bom para ele, porque quando começou a sair de casa estava sempre metido em problemas com os outros gatos aqui da zona, mas como foi bem alimentado e lutava comigo, lá se foi safando sempre com aquele olhar determinado de quem sabe que não precisa de fazer nada, para ter tudo. Sempre me fascinou a forma determinada com que ia para sitio nenhum, e não valia a pena trocá-lo de sitio porque ele voltava logo, depois de lamber uma das patas e olhar para mim com aquele olhar amarelo.
(continua)