Sunday, January 7, 2007

O meu gato morreu


Meu gato está a morrer

Veio a vizinha em pânico bater-me na janela, chorosa e dizer-me: o seu gato está a morrer ali ao pé da Fernanda.
Sai disparado e fui ver, e lá estava ele de língua de fora a olhar para mim com aquele olhar de quem tudo sabe da vida e nada quer dela a não ser sopas e descanso. Gosto muito dele, foi minha companhia por mais de uma década, e está velho e sempre fez a vida á maneira dele, como gato que se preze.
O veterinário quis abatê-lo mas eu não tive coragem de o mandar abater e ele ficou ali colado ao meu peito a lamber-me a mão devagar já quase sem forças, mas a querer muito viver estes últimos momentos comigo.
Segundo o veterinário é a velhice que o está a matar ,e talvez parasitas que agora não vale a pena combater porque ele já não tem organismo que se defenda, bem que andava estranho estes últimos meses, mas que posso eu fazer contra o tempo?
Encheu a minha vida de sorrisos, de límpidas gargalhadas, naquele seu companheirismo silencioso, cresceu aqui, e chegou a esta casa de mota vindo de Oeiras.
Foi-me dado por uma miúda de olhos grandes e negros, e ele vinha numa gaiola, esfomeado.
Não sabia beber leite dum pires pelo que foi amamentado aqui pela minha namorada da altura a Xu, doce mulher, de instintos maternais muito fortes que se deliciava a dar o biberão ao gatito, que pela sua atitude agressiva foi chamado de Tigre (tigrito para mim), biberão esse que tomava 4 vezes ao dia e mais uma vez quando a namorada chegava, que adorava aquele momento.
Cresceu aqui só, nesta casa á espera da minha chegada acompanhado ou não, e foi neste clima que nos habituamos um ao outro, e criamos aquela cumplicidade possível com um gato muito libertino como sempre foi, não teve outros gatos com quem brincar e aprender coisas de gato pelo que se afeiçoou a mim duma forma muito forte, mas que o inibiu de saber coisas de gato, e isso não foi bom para ele, porque quando começou a sair de casa estava sempre metido em problemas com os outros gatos aqui da zona, mas como foi bem alimentado e lutava comigo, lá se foi safando sempre com aquele olhar determinado de quem sabe que não precisa de fazer nada, para ter tudo. Sempre me fascinou a forma determinada com que ia para sitio nenhum, e não valia a pena trocá-lo de sitio porque ele voltava logo, depois de lamber uma das patas e olhar para mim com aquele olhar amarelo.
(continua)

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